Glaucoma: cuidados na prevenção e tratamento!

Por Dr. Miguel Angelo Padilha, a convite da professora Selma Sabrá, especial para O Fluminense - Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Saúde
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A data de 26 de maio foi instituída como Dia Nacional de Combate ao Glaucoma por lei federal de número 10.456 e assinada em 13 de maio de 2002, para lembrar a população da importância de se checar periòdicamente a pressão intra-ocular (PIO), que quando aumentada pode produzir uma doença visual grave conhecida como glaucoma.

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde) o glaucoma é a segunda causa de cegueira irreversível no mundo, acometendo cerca de 4% da população acima dos 40 anos de idade. De evolução sorrateira, não costuma dar sinais de sua presença, salvo em raras situações onde seus portadores podem se queixar de discreta cefaléia, levando a se pensar em enxaqueca, ou percepção de halos coloridos em torno de luzes. É mais comum entre os afrodescendentes, portadores de alta miopia, diabéticos, nas famílias onde há história de glaucoma entre seus membros. A natureza hereditária da doença impõe um check-up ocular já na adolescência ou, eventualmente, até antes. Em casos de recém natos com lacrimejamento constante e olhos grandes (buftalmia) pode significar glaucoma congênito.

Sob o rótulo de glaucoma existem basicamente dois quadros clássicos: o glaucoma crônico simples ou de ângulo aberto, que é o mais comum, e o glaucoma de ângulo estreito ou fechado. O primeiro quadro é representado por uma doença que pode evoluir durante anos e só o exame da PIO vai permitir sua detecção. O segundo é conseqüência de um estreitamento de uma região anatômica ocular que, em condições especiais como estresse, emoção muito forte, uso tópico ou sistêmico de atropina, ou simplesmente pelo fato de seus portadores ficarem em ambientes de absoluta escuridão, bloqueia totalmente a saída do humor aquoso, líquido especial que nutre diversos elementos anatômicos intra-oculares. Se isto vier a ocorrer a PIO, que normalmente varia entre 10 a 20 milímetros de mercúrio (mmHg), poderá chegar rapidamente a 40 mmHg ou mais. Na crise de glaucoma agudo o olho fica muito vermelho, dor intensa, visão embaçada, com o paciente apresentando enjôos e vômitos que podem confundir o diagnóstico com crise de vesícula ou de rins. O atendimento tem que ser feito em caráter de máxima urgência, buscando impedir que o nervo óptico seja irremediavelmente lesado.

Já no glaucoma crônico, se a doença não for detectada a tempo, o paciente perderá campo visual gradativamente começando pela periferia e finalmente o próprio campo central, acompanhado de alterações na cabeça do nervo óptico. Alguns pacientes só se dão conta de que algo está errado com sua visão numa fase adiantada da doença, quando começam a esbarrar em pessoas ou objetos ao seu lado ou, ao manejarem um veículo, não percebem a presença de obstáculos laterais.

Existem outras formas de glaucoma, como o congênito; o de origem medicamentosa, principalmente com o uso prolongado de colírios ou spray nasal a base de corticóide; os decorrentes de processos inflamatórios intra-oculares, traumas oculares, tromboses retinianas, pós cirurgias de catarata, cada uma exigindo uma conduta apropriada.

No controle da doença, é fundamental o exame de fundo de olho, com máxima atenção para as condições da cabeça do nervo óptico e a realização de campos visuais com certa periodicidade. A tonometria de Goldman (aparelho que mede a PIO) tem sido o padrão-ouro para o controle do glaucoma mas em certas situações não é o suficiente. Associado a tonometria, o especialista tem que conhecer a espessura da córnea; fazer a curva tensional diária, prova de sobrecarga hídrica, avaliação da camada de fibras nervosas, fotos esteroscópicas. Pacientes já submetidos à cirurgia a laser de miopia devem estar atentos à sua pressão intraocular e conhecerem a espessura da córnea para correlacioná-la com a pressão obtida pelo tonômetro.

Como a elevação da PIO é conseqüência de um aumento exagerado do humor aquoso, o tratamento consiste no uso de colírios que possam reduzir a sua produção ou aumentar o seu escoamento. Hoje se dispõe de uma infinidade de drogas para ajudar neste permanente controle e que, na maioria das vezes, serão usadas por toda a vida do paciente. Vários destes medicamentos podem apresentar efeitos colaterais de várias magnitudes, e o oftalmologista tem que conhecer o estado geral de seus pacientes e receber deles todas as informações necessárias para rastrear possíveis efeitos adversos, eventualmente alguns graves. Citando apenas um exemplo vale alertar que colírios contendo betabloqueadores não devem ser administrados em pacientes portadores de asma brônquica, doença pulmonar obstrutiva, pacientes com tendência a hipoglicemia espontânea, afecções cardíacas graves, pois além de poderem produzir severa bradicardia, podem levar a uma indicação equivocada de implante de marcapasso. Bastará suspender o uso deste medicamento e o ritmo de batimentos cardíacos deverá voltar ao normal.

Quando a terapia clínica não surtir o efeito desejado, será necessária uma cirurgia a laser, com a qual se busca aumentar o diâmetro da malha trabecular; ou implante de stents ou uma trabeculectomia, quase sempre com o uso de antimetabolitos, objetivando criar um mecanismo de drenagem ocular diretamente para o sistema vascular. Em casos mais rebeldes, implantes de válvulas ou até procedimentos ciclodestrutivos serão as opções a serem analisadas.

Infelizmente esta doença ainda não tem cura definitiva. Todos os recursos devem ser disponibilizados para seus portadores poderem controlar a doença e impedir sua progressão. Quando a doença responde bem aos recursos empregados, é possível o paciente desfrutar de uma vida normal, mas sem nunca esquecer de usar os medicamentos prescritos.

O oftalmologista, como guardião de um dos sentidos mais preciosos do ser humano, reúne hoje um excelente arsenal para rastrear a presença desta doença de forma bem precoce e tratá-la, alertando os pacientes para a importância da fidelidade ao tratamento.